terça-feira, 23 de dezembro de 2014

eis uma carta de amor

Meu amor... Estava mais que exposta a nossa paixão. Mais que explícito o nosso calor, nosso fulgor de um desejo à dois, três ou quatro. Contudo, a barreira invisível, nosso muro de Berlim, a nossa muralha da dor, a parede, a fronteira nos limita às nossas amarguradas vidas frustradas de sonhos. Limita, parte, rasga e nos condena a querer demasiado o oposto. Daí, propagam-se as cores, as coisas, o cheiro doce do suor, os toques poucos e tímidos da aproximação. É covardia nossa, pouquíssima bravura, fumaça demais pra enxergar nos olhos da razão. O flerte: a conversa fiada do corpo, confesso furor cheio de pudores. Fúria de um pesadelo à dois. Os olhos, a alma, porta da inspiração. Distância. Silêncio. Missões impossíveis. Nossos corpos anseiam a invasão tenra dos fluidos. Ilusionista golpista este amor, este instinto da carne. O anseio de fagocitar o oposto posto em sacrifício ao sangue, ao pó. Tenha a vontade, a coragem que guarda junto ao peito! O que nos nega a liberdade é o mesmo que liberta: nós mesmos. Liberta o que outrora, na gaiola, restara de nós já não deseja voar. Esse frisson é-nos belos a todo instante momento sufocante. Flores-desejos, floreios amantes no papel distante de si. Distante da razão, do aconchego.O brilho, a destreza dos movimentos refletores de emoções cálidas. A dor dos dias enclausurados no vazio-alma. E ócio, dispor de ócio sempre; e canalizá-lo a sofrer, a viver nas sombras e alimentar-se do escuro, embriagar-se das emoções funestas.

Meu amor, não tenha medo. Fuja. Quebre as paredes do tesão. Seja. Respire. Seja outra vez. Mais uma... e mais outra. Seja o sonho, o gozo, a carne, o tato, o trago, a ilusão. Seja este corpo. Seja os nossos corpos. Esteja junto. Veja o que tem em mãos. Entregue-se ao nós, ao que deveria ser de nós. Realize os seus, os meus, os nossos. Foda. Foda. Foda-me. Foda-nos.

sábado, 13 de dezembro de 2014

a história de nós três

Sexta-feita. Tarde feita de chama. Um sol queima a cuca. Um dois três ônibus. Um tubo fervilhante. Na praça no passo nos encontramos. Um suicídio recente assombra seus transeuntes. Um caminho curto. Testas meladas de suor. Os vocábulos foram rudes, cansados. As frases foram curtas e impacientes. Eram três corpos. Três almas irmãs.

Três desatinos cruzados na areia fina. Três pares de pernas curtas andarilhas de um caminho perdido. Três risadas afogadas nos braços de Iemanjá; imersas neste mar. Três bocas encontram-se fartas. Três. Três: um ímpar-maldito-perfeito.

Três cabeças pensam melhor juntas?

Três desejos apagam-se nos tragos dos cigarros. Três trejeitos. Três transviados de razão. Três que beijam muitos goles deste álcool amargo.

Nestas almas, nestas vidas, eu enxergo, vejo peças frestas frescas perspectivas do barato – “ O mel do melhor” – o desalento tedioso caso d’amor nas cabeças vazias cheias de ócio.

Somos nós, os três. Três dos muitos encontros-perdidos desta cidade-luz. Três destas vidas marginais de sonhos. Três destes que voam além nesta odisséia deste espaço-célebre-cérebro. Três destes muitos sorrisos escassos emersos da boemia. Três destas luzentes cabeças penosas pragmáticas serenas vidas.

Nos três, em nós três, o poeta – o poema-prosa – persiste. Insiste. Teima. Empaca nestas três horas. Três dias. Três beijos. Três minutos bastam.

Três. Três. Três. Seis. Nove luas planetas cometas estrelas alucinadas no ópio.

Sei. Reafirmo, do âmago, esta dor de ser. Reafirmo a tríade errante destes hipotálamos minguantes. Estes três caminhos divergentes que fogem o ordinário-comum destino.

Três sexos pungentes sangrando os dias de luta. Estes que procuram, caçam a redenção de suas próprias vidas. Procuram mergulhar no ócio-louco e fugir o negócio. E que, em certa feita, encontram, cada qual, mais três dentro de si mesmos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

peixe

imerso
descubro-me extasiado.
mergulho.
e quando afogado,
suprimo
os sentidos.
liberto
as asas-peixe.
nado
e nada-vácuo encontro.
juro e morro
afogado
em mim.

cigarros, um reescrito

de trago em trago
trago a vida
e a inegável eminência
da morte.

de trago em trago
trago em sonhos
o silêncio da dor
de um peito livre

de trago em trago
trago a verdade
exposta à farsa
e o teatro
que é viver

de trago em trago
trago a certeza
do próximo cigarro
acender

por morrer em paz
no silêncio
da minha razão
na dor da afirmação
e na fé da minha luta.

sábado, 8 de novembro de 2014

alma

nestas circunstâncias
nestes dias tantos
em que fujo viver
um pranto

eu quero tanto
eu peço tanto

que esta alma
cálida e confusa
fosse salva deste plano

que esta vida que respiro
fosse burra, curta e lenta

que as feridas
fossem cavas ao profundo

e que esta gangrena
a necrosa poética
viesse tida como bela

que viesse forte
comer a razão
a minha

a razão
da qual nunca tive.

domingo, 2 de novembro de 2014

SÓ A POESIA SALVA
SÓ A POESIA SALVA
SÓ A POESIA SALVA
SÓ A POESIA SALVA
SÓ A POESIA SALVA

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

m0rcos, ma dear. sobre sua humanidade

pra que fui nascer com vida humana?
queria ter nascido uma obra de arte

declaração tardia de repúdio ao mês de agosto

Eu me leio bestializado dante toda esta dor. as marcas de agosto ainda permanecem vivas e desejo que os bons ventos de setembro tragam-me a desejada paz serena e sólida. e que eu possa  tragá-la feito pita na boca do mundo.
Banho-me deste sol tímido que surge entre as pernas virgens das montanhas. escondo-me. mergulho de volta ao rio das lamentações. conforto: garanto. suspiro. respiro este cinza ascendente. rasgo o agouro do peito arfante peito petulante. pinocito o néctar de uma vida potencial, da qual espero inflado de esperança errante. eu espero, eu aceito esperar. eu aceito passar, agosto, setembro, outubro... até que venha o verão com seus calores sufocantes, até que o mar venha engolir todo meu desalento. eu aceito. espero que aceite. aceito esperar. aceito.

livramento secular

livrai-me-ei
das roupas que cobrem a farsa.
livrar-me-ei
livrar-me-ei
livrar-me-ei
de tuas mentiras nefastas
da tua intolerância burra
e irredutível.
livrar-me-ei 
das guerras que assolam
dos fantasmas da madrugada.
livrar-me-ei 
do sangue que aqui percorre
nas veias cavas
dos corpos que aprisionam
a dor.
livrai-me-ei
desta nação
desta razão
desta realidade fria.
livrar-me-ei 
das rugas que
me consomem
das histórias que 
me seguem firmes.
livrar-me-ei 
dos sonhos loucos
de infância.
livrar-me-ei
da vida 
que aqui respiro.

tudo que teus amantes imploram em clemência...

são mãos e língua habilidosas. o calor do corpo oposto a que põe-se a desejar. suor que exala o cheiro da luxúria. a expressão de gozo que tuas rugas refletidas em minha face dura crua exposta e confusa. daí, n'uma epifania distante, teu sexo torna concluso o inconcluso falho e humano o grito o desejo da liberdade inerente restrita falha incoerente inexistente. o prazer da descoberta dos músculos fortes e robustos do gozo quente que esguicha e berra na minha cara teus pelos finos da pélvis ritmada a movimentos bruscos. o valor do encontro perene entre corpo e espírito. e agora, o que em segundos se perde, nos faz gemer, nos faz amenizar os espasmos, nos faz querer mais e implorar por tesão.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

ankhon pectus
ankhon pectus
ankhon pectus
ankhon pectus
ankhon pectus
ankhon pectus

terça-feira, 19 de agosto de 2014

o que se esconde
dentro d'alma
é onde mora o
medo e a bravura
uma afeta
a outra enfrenta

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

em cada ser humano
há tatuado ao peito
a dor da dúvida
e o prazer da solução

efêmero de mim

o verso tolo
o sorriso amarelo
a fome rasa
a vida curta

o sexo pouco
o ócio louco
a tarde verde
e noite lenta.

dos olhos

nos olhos
verdes tímidos
esconde do mundo
liberdade que goza
intrínseca à alma.

menino ausente
alheio de si
deixa-me entrar
penetrar,
engolir
fagocitar
tua pele
lisa e suave

deixa-me ler-te
feito criança
fronte a novidade

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

terça-feira, 5 de agosto de 2014

we are all tragedies

Eu sou uma tragédia declarada.
Ponho-me a pensar de tal forma.
Não me rendo as esquinas que passo.
Menos ainda nas que te encontro.

Mas ser humano é trágico por natureza.
Tudo propõe-se a tal fato:

os passos que dou;
os beijos que refuto;
os rostos que desprezo;
os banhos de lua que me rendo;
os corpos que me deito;
e os sonhos que gozo.

Beleza traz-me ao asco.
Horror.
Embora busque o refúgio
nos pequenos prazeres quotidianos.

Somos todos tragédias.
E a vida, o nosso teatro.
Você: o público que nos aplaude.

Tento fugir à realidade.
Embora viva o que há
pra se viver e respirar.

Daí então,
ela sangra
ao seu jeito dilacerante.

Mas de um jeito
ou de outro,
ela tem-me vivo.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

porquê respiro

Escrevo as palavras que não vivo
Ouço as vozes que não pronuncio 
Respiro o ar que não existe 
Toco a alma que não está lá. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

nuit d'un été solitaire



Alguma forma o mantêm refém dos olhos arregalados. Eles desejam repousar e não sucedem. Desejam retirar o fluxo, mas apenas o que recebem é a indesejável insônia inesperada. A noite sempre foi amiga. Não parece comum ter essas sensações. A cabeça gira com o cheiro de pó e o calor dominante. Os braços tremem com o suor e os dedos inquietos permanecem acordados a procura de respostas. As quatro paredes que o comprimem não são suficientes para salvá-lo de si mesmo. Nunca se sabe o que vem adiante. O pretume do céu e o breu das cálidas ruas sempre guardam os segredos e as resoluções. E a mente caminha sozinha pelos becos sujos de qualquer lugar.
Atordoado, abre as portas e as atravessa rua afora. Dá dois passos e hesita voltar à cama. A dor da dúvida é sempre maior. É sempre presente. Mirava aos pés como se lhe dessem esperança. E a situação nauseava de toda monotonia. A solidão vinha chegando, trazendo consigo o seu caráter individualista. Tudo que temia, possivelmente, tornar-se-ia realidade. O medo ataca e bagunça a casa, flagela os sentidos, condena o corpo e empobrece a alma. 

Mabs.
sobre ócio.
04.01.14

bleu est une couleur chaude


Assistir a vida de Adèle foi-me revigorante à alma. O filme transmite-me muito além do quê apenas a vida miserável de uma adolescente e sua trilha a seguir deste ponto. Adèle é alguém que procura por experiências, incessantes experiências.  Ela é a ilustração do quê passamos vida a fora, do quê os sentimentos nos trariam à tona. Sua paixão por Emma é o espelho de sua alma, que veste a cor azul como arma. Azul, assim como uma das fases de Picasso, exatamente como natureza.
Seu romance com Emma dá-me esperança à cena cinematográfica e meus gostos pessoais. Assisti-las foi como estar por dentro da situação. Trata-se do quê temos de idealização no outro, do quê se espera receber em troca. O sexo exterioriza todo sua fúria e as deixa vulnerável às criticas. Contanto, não me importa o quê foi pensado antes. Tudo o quê li sobre a película é total intriga.
Engana-se quem pensa que isto é apenas sobre duas mulheres apaixonadas e suas desavenças. É uma vida. É completa. E na vida encontra-se todo tipo de situação. As brigas, as atitudes impensadas, os arrependimentos, os méritos... Tudo isso constrói cada ruga, cada cicatriz que carrega consigo.
La vie D’Adèle traz o ser humano errante como protagonista. Adèle poderia ser qualquer um. Qualquer um que esteja disposto a viver irrevogavelmente livre. E o amor... Como isso me dói. Sinto por ela. Choro com ela. Eu como, canto e danço com ela.
Cada minuto gasto assistindo-a prova cada lágrima e excitação por mim permitidas. Poucos me fazem acreditar no amor, na vida. Adèle fez-me. E fará novamente. E tudo que me resta é pensar que sempre há um fio de esperança em cada passo em falso que dermos. De um jeito, ou de outro, tudo se encaixa. E daí então, erguemos a cabeça e continuamos a sorrir. 

Obrigado, Adèle.


                                                                                  Mabs.
 sobre a esperança no amor.
19.02.14

aqui, porque choras.



A cada momento alguém a seu lado chora. E chora por chorar. Chora por desespero. Chora por não ser compreendido. Chora porque dói. Chora por não sentir, ou por sentir demasiado. E chora mais, desesperadamente, para livrar-se de si mesmo. Para se encontrar no escuro. Chora por libertação. E funciona. E todos choram por algum motivo. Por mais torpe que seja, chorar sempre será sublime. É a ação humana mais sincera e sensível que possa existir.
Reconhecer a si próprio é uma tarefa ferrenha a que temos de enfrentar. Desfazer-se de opiniões e criticas. Distinguir o que te faz bem.  Reconhecer o que realmente te consiste. Por vezes, pensamos que ser o que somos nos limita, nos destrói. Porém, nunca se pensa em lapidar o que existe. Transformar mesmo. Criar. Reinventar-se. Para o bem da alma e do corpo. E assim, construímos gente. Gente de verdade. E não robôs de ações mecânicas.
No entanto, digo: chorar é preciso. É humano. É de direito. Deve ser respeitado. A seu tempo, com seu tempo e à favor. A vida é cruel o bastante para nos mutilarmos. A vida já te poda demais para nós o fazermos novamente. Cobre-se menos. Sinta mais. Sorria mais vezes. Chore mais vezes. SEJA REAL. VIVA. E não te arrependa de ser. De sangrar. De amar. Por que, por aqui o tempo é curto demais para quatro paredes...  


Mabs. 
Aos que choram.
20.01.14

À um tempo atrás escrevi esses três pequenos parágrafos e pus em minha coleção de lamentações. Hoje encontrei isso por acaso. E me decepcionei comigo mesmo. Aqui trazia uma mensagem de força, de levante e de alguém que finalmente recuperou alguma coisa perdida. Aquele era eu à meses anteriores. Não sei ao certo à que me destinava as palavras. Mas sorri. E gostaria de ter tido alguma melhora. Mas tudo que faço é me remoer nas dores, nas limitações, nas frustrações. Conformei-me na situação inconsolável em que vivo os dias. Eu tenho raiva, meus olhos estão saltados, meu corpo não responde direito, meu ânimo se foi. Não faço ideia da razão qual seria. Reconheço que preciso de ajuda. E muita. Por parecer forte, mas na verdade, ser frágil demais. Acho que ninguém encontraria o que consiste a minha dor interna. Não sei de onde vem. Só sei que estou cansado. Muito. Demais. E não consigo sozinho.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

eu refuto,

os olhos de ressaca
os dias acinzentados
as bocas que beijei
as pernas que me entrelaço

os passos de ontem
os cabelos amassados
as vidas fodidas
as mortes futuras

os choros de horror
os gemidos de gozo
as correntes de ar
as cordas do teu violão

os livros empoeirados
os discos arranhados
as canecas de café
as taças manchadas de vinho

os pés que retrocedem
os maços de cigarro
as risadas à meia-luz
as sombras que vivemos

os lençóis amassados
os corpos quentes
as línguas ágeis
as salivas espessas

eu refuto
a vida que vivemos,
mas ainda agradeço
e espero.

e amenizo
e choro
e sorrio
mas morro
e te refuto.

domingo, 11 de maio de 2014

portrait de l'hiver

Eis aqui
Lembrança de teu sorriso
Que resta de teu prazer

Eis aqui, 
A rosa cor-de-vinho
Que nunca vida foste.

Eis aqui,
O poeta que sonhastes.
A gota de esperança
Que nos falta.

saliva desperdiçada.
contravento entre os cabelos
batom que pinta teus lábios.

o abraço
o beijo
que refutas.

eis aqui
o marco do conflito 
de toda dor.

Eis aqui vida
A nossa vida.

domingo, 4 de maio de 2014

Sinceridade:

só tua nudez possui

Cara flor,

Sinto em dizer-te
Que o amor aqui se esvai
Não eres mais como foste
quando presa a teus ramos.

Matei-a ao colher-te.
Mas teu caule pouco
Espetou-me curiosidade.

Tuas pétalas,
desfizeram-se
Ao tocar-te.

Teu perfume
não me exala
o calor precendente.

Não me prende
ao terror do amor
de outrora.

Mas sei que culpa tua
Não foste.
Apenas os olhos mudaram.
Já não te encaram de trato.

Mas, e depois?
O depois mata.
E o presente
Me prepara à tua morte.

Obrigade, flor.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

ao (finge) amar

Às vezes brinco de amar.
Procuro a vítima mais próxima.
Digo-a que a adoro.
Pressiono-a contra meu peito.
Finjo ser amigo.
Digo o que é preciso.
Sou ausente.
Mas sou supercarente.
Eu as amo: as pessoas.
Mas já não amo mais.
Eu as odeio.
Eu as provoco.
Ignoro.
Crio asco.
Admiro seus esforços.
Mas no fim
A história acaba.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

sobre ser invisível

Agrada-me caminhar só
E observar o som ao redor.
de passo em passo
sou invisível. 

E o que vejo
São só almas só
Vidas vazias de cor
De pernas sozinhas 
Na multidão.

Até então que
Invisível não passo 
A ser

E de mim
O que é visto
Me desconstrói.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Tudo, o nada.

Tudo que
tenho a fazer.
Que veio
a ser.
Que venha
a ter
É Por querer
morrer.
E fazer
de novo.

terça-feira, 11 de março de 2014

medo

Só a mim consiste sentir o medo
Só em mim habitam os fantasmas.
Só aqui dentro me assombram.
Só por lá vivem meus segredos.

estar perdido.

Estou perdido.
Este é meu grito.
Ajuda não é necessária.
Nem a redenção.

O caminho é solitário.
A vida curta.
O tempo
dono de si.

Estou perdido.
Quero encontrar.
Achar o caminho
Do mar.

Na brisa suavizar.
À esquina
Do bem-viver.

Estou perdido.
E quero estar.
Estar vivo.
Estar a procurar.

Ainda acho.
Só não sei
O que há.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

?

Curiosa a vida, não? À principio um ser sem total domínio de suas emoções e limitações vem a crescer, desenvolver-se, (tentar) relacionar-se, respirar. E daí por diante seguem as decepções, os desejos, as loucuras. E os dias passam e quase tudo perde seu colorido. A busca incessante do novo é irmã do medo. Ela, em si, nem sempre é dolorosa. Ela requer um pouco de tempo, um pouco de visão. Mas a insanidade mora ao lado, e por pouco não sangra as raízes patológicas.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pedro resiste

Pedro deseja ver além da vida.
Ele a assiste como tela de cinema.
Enxerga as cores que não estão por lá.
Mergulha no breu desconhecido.

Pedro acredita estar além.
Ainda põe fé nessa humanidade.
Não desiste.

Pedro se inunda
no silêncio.
Da voz.
Da rua.
Da solidão.

Pedro é irredutível.
Bate o pé.
Crê no quê diz.
No quê quer.

Pedro queria conhecer o mar.
Dançar nas chuvas de verão.
Conhecer a vida.

Pedro tem medo de gente.
Se esconde dentro de si.
Estar só o inspira.

Pedro anda descalço.
E sente-se livre.

Pedro ainda vê
o brilho nos olhos.
Avista a esperança.
Almeja sorrir.

Pedro vive.
Vive só.
Vive de brisa.
E vive vivendo.

Pedro admira a lua.
Sem lua.
Sem vida.
Sem flor.
Sem amor.

Pedro despreza
a dor.
o odor
das flores.

Pedro
De olhos vermelhos
E pulso forte.

  

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

sobre ontem, aqui e ao futuro.

Eu lembro. Tarde de outubro, ao calor sufocante no ar, você veio ao meu encontro como quem surge calado. Mesmo sabendo que o encontraria de um jeito ou de outro, a dúvida era constante, e espantava-me a sensação. E eu, com meus instintos desajeitados, lhe saudava com carinho.

Ah, como meu peito enchia-se de temor, espantava-me sua serenidade, sua leveza, aquela como quem livre compartilha de sensações contagiantes.

Eu o encarava, curioso, procurando dar fim a dúvida enfadonha. E nossos passos, sempre tão apressados, espalhavam a multidão ao redor, os mesmos deram trégua ao coração enlouquecido.

Falávamos de cinema, citavam-se preferências e os gostos peculiares. A conexão era-me surpreendente. Aos ditos tão banais, grandioso fez-se momento memorável. Flashs da infância e temores trocados desenvolvem a nossa naturalidade mútua.

Tudo que esperava era a magia da aproximação. Um movimento ou outro, bruscos, você abraçou-me com toque terno aveludado. É medonho como sou piegas; é miserável como tremo. Ao saudoso menino moço dos cabelos esvoaçantes, menino dos olhos distraídos, embora, sinceros (Este à quem tenho todo meu cuidado); entreguei-lhe estranha devoção de estar vulnerável e aberto.

Ao que vem adiante: deixo à critério da natureza inegável dos nossos corpos. Eu lembro. Flor-de-Lótus hipnótica e desconcertante encanto crescente, minha paixão é grande o bastante ao meu ego. Talvez não sejamos nada, ou apenas tudo, quem sabe só um pouco.

Ah, meu caro, espero que a razão esteja comigo. Ou que ao menos eu seja incoerente o bastante pra fazer-me aventureiro. O acaso nem existe, mas a beleza da dúvida ilumina meus pensamentos.

Com terno, dedico à flor as cartas de ontem.

algo sobre minha mãe

Sinto saudade. Sem porém. E saudade é o que me acolhe quando o vazio vem à tona. Não que eu viva de passado, mas saudade é a sensação mais preciosa que me vem à cabeça neste momento. Claro, não deixa de ser um pouco egoísta de minha parte, e de uma fixação patológica que seria-me preocupante.
A verdade, é que saudade só me existe por haver passado; e sem passado ninguém estaria lá. De lá, guardo de ti tudo que alimenta a alma. E daí vem minha vontade de estagnar a vida. E fixá-la bem no ponto onde a expectativa e o imprevisível eram frequentes.
Sou saudosista, admito. Mas porquê moro no medo. O medo do presente. O futuro me apavora, e então me derreto dentre memorias. As memórias refletem o meu eu. Elas nunca negam o que são. Constituem toda ruga, todo suor e luta aqui presentes em mim. É o que sou, e o que serei.
Gosto de estar em casa, de organizar e encarar os quadros e discos empoeirados. Guardo cartas da adolescência como relicários dourados. Nelas, vejo a inocência dos nossos dias de sol. Vejo vidas de veias pulsantes, sorridentes e acolhedoras.
O corpo se esvai, porém, a alma, delicada e sublime, permanece a mesma. Permanece suave, limpa, perene e jovem. E então crescer torna-se mais que dilema. Crescer vai além de datas em documentos. E a idade tampouco traria sabedoria se não fosse o prazer da experiência. E como aprendemos em cada instante, que, por fim, nem cresça de fato. É difícil dizer, ontem mesmo me vi vibrante, ativa e com tanto amor. Ah, como tinha amor.
Mas agora, sento-me aqui. Solitária, fronte a vida e minhas dores. E o arrependimento não me vem a cabeça. Sempre fui de acertar. O ego não me permite muito erros. Apesar que, ser errante é necessário, ser humano, ser pensante. Dispenso julgamentos. Nada disso atormentaria mais que isso. Por vezes, sem fundamento algum.
Eu ainda tenho medo da rua. Não por mim. Tampouco aos outros (se houvera outros). Tenho medo do que ela me trás, pra onde me leva. Mas nunca se sabe. A pouco, não teria consciência de tal fato. O medo cresce, e temo que possa me encontrar por lá. E se encontrasse, mal saberia como agir. Mas confio em que os dias de sol acolham-me com seus sorrisos amarelos. É que vejo esperança nos olhos da menina de outrora.
Sinto-me viva, respiro. E muito bem, sim, obrigada. Embora as lágrimas caiam, ainda me agradar mirar as muitas paredes pesadas com a nossa história. Com os delírios dos nossos dias. Este lugar, nesta aura, trazem sangue, suor e lágrimas, trazem sorrisos defeituosos e sinceros, trazem amor absoluto e o meu calor, a pele e as manchas escuras da vida. Por fim, quase não me sobra medo. Já consigo levantar e isto é que importa. Levante!