sábado, 13 de dezembro de 2014

a história de nós três

Sexta-feita. Tarde feita de chama. Um sol queima a cuca. Um dois três ônibus. Um tubo fervilhante. Na praça no passo nos encontramos. Um suicídio recente assombra seus transeuntes. Um caminho curto. Testas meladas de suor. Os vocábulos foram rudes, cansados. As frases foram curtas e impacientes. Eram três corpos. Três almas irmãs.

Três desatinos cruzados na areia fina. Três pares de pernas curtas andarilhas de um caminho perdido. Três risadas afogadas nos braços de Iemanjá; imersas neste mar. Três bocas encontram-se fartas. Três. Três: um ímpar-maldito-perfeito.

Três cabeças pensam melhor juntas?

Três desejos apagam-se nos tragos dos cigarros. Três trejeitos. Três transviados de razão. Três que beijam muitos goles deste álcool amargo.

Nestas almas, nestas vidas, eu enxergo, vejo peças frestas frescas perspectivas do barato – “ O mel do melhor” – o desalento tedioso caso d’amor nas cabeças vazias cheias de ócio.

Somos nós, os três. Três dos muitos encontros-perdidos desta cidade-luz. Três destas vidas marginais de sonhos. Três destes que voam além nesta odisséia deste espaço-célebre-cérebro. Três destes muitos sorrisos escassos emersos da boemia. Três destas luzentes cabeças penosas pragmáticas serenas vidas.

Nos três, em nós três, o poeta – o poema-prosa – persiste. Insiste. Teima. Empaca nestas três horas. Três dias. Três beijos. Três minutos bastam.

Três. Três. Três. Seis. Nove luas planetas cometas estrelas alucinadas no ópio.

Sei. Reafirmo, do âmago, esta dor de ser. Reafirmo a tríade errante destes hipotálamos minguantes. Estes três caminhos divergentes que fogem o ordinário-comum destino.

Três sexos pungentes sangrando os dias de luta. Estes que procuram, caçam a redenção de suas próprias vidas. Procuram mergulhar no ócio-louco e fugir o negócio. E que, em certa feita, encontram, cada qual, mais três dentro de si mesmos.

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