segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

algo sobre minha mãe

Sinto saudade. Sem porém. E saudade é o que me acolhe quando o vazio vem à tona. Não que eu viva de passado, mas saudade é a sensação mais preciosa que me vem à cabeça neste momento. Claro, não deixa de ser um pouco egoísta de minha parte, e de uma fixação patológica que seria-me preocupante.
A verdade, é que saudade só me existe por haver passado; e sem passado ninguém estaria lá. De lá, guardo de ti tudo que alimenta a alma. E daí vem minha vontade de estagnar a vida. E fixá-la bem no ponto onde a expectativa e o imprevisível eram frequentes.
Sou saudosista, admito. Mas porquê moro no medo. O medo do presente. O futuro me apavora, e então me derreto dentre memorias. As memórias refletem o meu eu. Elas nunca negam o que são. Constituem toda ruga, todo suor e luta aqui presentes em mim. É o que sou, e o que serei.
Gosto de estar em casa, de organizar e encarar os quadros e discos empoeirados. Guardo cartas da adolescência como relicários dourados. Nelas, vejo a inocência dos nossos dias de sol. Vejo vidas de veias pulsantes, sorridentes e acolhedoras.
O corpo se esvai, porém, a alma, delicada e sublime, permanece a mesma. Permanece suave, limpa, perene e jovem. E então crescer torna-se mais que dilema. Crescer vai além de datas em documentos. E a idade tampouco traria sabedoria se não fosse o prazer da experiência. E como aprendemos em cada instante, que, por fim, nem cresça de fato. É difícil dizer, ontem mesmo me vi vibrante, ativa e com tanto amor. Ah, como tinha amor.
Mas agora, sento-me aqui. Solitária, fronte a vida e minhas dores. E o arrependimento não me vem a cabeça. Sempre fui de acertar. O ego não me permite muito erros. Apesar que, ser errante é necessário, ser humano, ser pensante. Dispenso julgamentos. Nada disso atormentaria mais que isso. Por vezes, sem fundamento algum.
Eu ainda tenho medo da rua. Não por mim. Tampouco aos outros (se houvera outros). Tenho medo do que ela me trás, pra onde me leva. Mas nunca se sabe. A pouco, não teria consciência de tal fato. O medo cresce, e temo que possa me encontrar por lá. E se encontrasse, mal saberia como agir. Mas confio em que os dias de sol acolham-me com seus sorrisos amarelos. É que vejo esperança nos olhos da menina de outrora.
Sinto-me viva, respiro. E muito bem, sim, obrigada. Embora as lágrimas caiam, ainda me agradar mirar as muitas paredes pesadas com a nossa história. Com os delírios dos nossos dias. Este lugar, nesta aura, trazem sangue, suor e lágrimas, trazem sorrisos defeituosos e sinceros, trazem amor absoluto e o meu calor, a pele e as manchas escuras da vida. Por fim, quase não me sobra medo. Já consigo levantar e isto é que importa. Levante! 

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