terça-feira, 13 de maio de 2014

nuit d'un été solitaire



Alguma forma o mantêm refém dos olhos arregalados. Eles desejam repousar e não sucedem. Desejam retirar o fluxo, mas apenas o que recebem é a indesejável insônia inesperada. A noite sempre foi amiga. Não parece comum ter essas sensações. A cabeça gira com o cheiro de pó e o calor dominante. Os braços tremem com o suor e os dedos inquietos permanecem acordados a procura de respostas. As quatro paredes que o comprimem não são suficientes para salvá-lo de si mesmo. Nunca se sabe o que vem adiante. O pretume do céu e o breu das cálidas ruas sempre guardam os segredos e as resoluções. E a mente caminha sozinha pelos becos sujos de qualquer lugar.
Atordoado, abre as portas e as atravessa rua afora. Dá dois passos e hesita voltar à cama. A dor da dúvida é sempre maior. É sempre presente. Mirava aos pés como se lhe dessem esperança. E a situação nauseava de toda monotonia. A solidão vinha chegando, trazendo consigo o seu caráter individualista. Tudo que temia, possivelmente, tornar-se-ia realidade. O medo ataca e bagunça a casa, flagela os sentidos, condena o corpo e empobrece a alma. 

Mabs.
sobre ócio.
04.01.14

bleu est une couleur chaude


Assistir a vida de Adèle foi-me revigorante à alma. O filme transmite-me muito além do quê apenas a vida miserável de uma adolescente e sua trilha a seguir deste ponto. Adèle é alguém que procura por experiências, incessantes experiências.  Ela é a ilustração do quê passamos vida a fora, do quê os sentimentos nos trariam à tona. Sua paixão por Emma é o espelho de sua alma, que veste a cor azul como arma. Azul, assim como uma das fases de Picasso, exatamente como natureza.
Seu romance com Emma dá-me esperança à cena cinematográfica e meus gostos pessoais. Assisti-las foi como estar por dentro da situação. Trata-se do quê temos de idealização no outro, do quê se espera receber em troca. O sexo exterioriza todo sua fúria e as deixa vulnerável às criticas. Contanto, não me importa o quê foi pensado antes. Tudo o quê li sobre a película é total intriga.
Engana-se quem pensa que isto é apenas sobre duas mulheres apaixonadas e suas desavenças. É uma vida. É completa. E na vida encontra-se todo tipo de situação. As brigas, as atitudes impensadas, os arrependimentos, os méritos... Tudo isso constrói cada ruga, cada cicatriz que carrega consigo.
La vie D’Adèle traz o ser humano errante como protagonista. Adèle poderia ser qualquer um. Qualquer um que esteja disposto a viver irrevogavelmente livre. E o amor... Como isso me dói. Sinto por ela. Choro com ela. Eu como, canto e danço com ela.
Cada minuto gasto assistindo-a prova cada lágrima e excitação por mim permitidas. Poucos me fazem acreditar no amor, na vida. Adèle fez-me. E fará novamente. E tudo que me resta é pensar que sempre há um fio de esperança em cada passo em falso que dermos. De um jeito, ou de outro, tudo se encaixa. E daí então, erguemos a cabeça e continuamos a sorrir. 

Obrigado, Adèle.


                                                                                  Mabs.
 sobre a esperança no amor.
19.02.14

aqui, porque choras.



A cada momento alguém a seu lado chora. E chora por chorar. Chora por desespero. Chora por não ser compreendido. Chora porque dói. Chora por não sentir, ou por sentir demasiado. E chora mais, desesperadamente, para livrar-se de si mesmo. Para se encontrar no escuro. Chora por libertação. E funciona. E todos choram por algum motivo. Por mais torpe que seja, chorar sempre será sublime. É a ação humana mais sincera e sensível que possa existir.
Reconhecer a si próprio é uma tarefa ferrenha a que temos de enfrentar. Desfazer-se de opiniões e criticas. Distinguir o que te faz bem.  Reconhecer o que realmente te consiste. Por vezes, pensamos que ser o que somos nos limita, nos destrói. Porém, nunca se pensa em lapidar o que existe. Transformar mesmo. Criar. Reinventar-se. Para o bem da alma e do corpo. E assim, construímos gente. Gente de verdade. E não robôs de ações mecânicas.
No entanto, digo: chorar é preciso. É humano. É de direito. Deve ser respeitado. A seu tempo, com seu tempo e à favor. A vida é cruel o bastante para nos mutilarmos. A vida já te poda demais para nós o fazermos novamente. Cobre-se menos. Sinta mais. Sorria mais vezes. Chore mais vezes. SEJA REAL. VIVA. E não te arrependa de ser. De sangrar. De amar. Por que, por aqui o tempo é curto demais para quatro paredes...  


Mabs. 
Aos que choram.
20.01.14

À um tempo atrás escrevi esses três pequenos parágrafos e pus em minha coleção de lamentações. Hoje encontrei isso por acaso. E me decepcionei comigo mesmo. Aqui trazia uma mensagem de força, de levante e de alguém que finalmente recuperou alguma coisa perdida. Aquele era eu à meses anteriores. Não sei ao certo à que me destinava as palavras. Mas sorri. E gostaria de ter tido alguma melhora. Mas tudo que faço é me remoer nas dores, nas limitações, nas frustrações. Conformei-me na situação inconsolável em que vivo os dias. Eu tenho raiva, meus olhos estão saltados, meu corpo não responde direito, meu ânimo se foi. Não faço ideia da razão qual seria. Reconheço que preciso de ajuda. E muita. Por parecer forte, mas na verdade, ser frágil demais. Acho que ninguém encontraria o que consiste a minha dor interna. Não sei de onde vem. Só sei que estou cansado. Muito. Demais. E não consigo sozinho.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

eu refuto,

os olhos de ressaca
os dias acinzentados
as bocas que beijei
as pernas que me entrelaço

os passos de ontem
os cabelos amassados
as vidas fodidas
as mortes futuras

os choros de horror
os gemidos de gozo
as correntes de ar
as cordas do teu violão

os livros empoeirados
os discos arranhados
as canecas de café
as taças manchadas de vinho

os pés que retrocedem
os maços de cigarro
as risadas à meia-luz
as sombras que vivemos

os lençóis amassados
os corpos quentes
as línguas ágeis
as salivas espessas

eu refuto
a vida que vivemos,
mas ainda agradeço
e espero.

e amenizo
e choro
e sorrio
mas morro
e te refuto.

domingo, 11 de maio de 2014

portrait de l'hiver

Eis aqui
Lembrança de teu sorriso
Que resta de teu prazer

Eis aqui, 
A rosa cor-de-vinho
Que nunca vida foste.

Eis aqui,
O poeta que sonhastes.
A gota de esperança
Que nos falta.

saliva desperdiçada.
contravento entre os cabelos
batom que pinta teus lábios.

o abraço
o beijo
que refutas.

eis aqui
o marco do conflito 
de toda dor.

Eis aqui vida
A nossa vida.

domingo, 4 de maio de 2014

Sinceridade:

só tua nudez possui

Cara flor,

Sinto em dizer-te
Que o amor aqui se esvai
Não eres mais como foste
quando presa a teus ramos.

Matei-a ao colher-te.
Mas teu caule pouco
Espetou-me curiosidade.

Tuas pétalas,
desfizeram-se
Ao tocar-te.

Teu perfume
não me exala
o calor precendente.

Não me prende
ao terror do amor
de outrora.

Mas sei que culpa tua
Não foste.
Apenas os olhos mudaram.
Já não te encaram de trato.

Mas, e depois?
O depois mata.
E o presente
Me prepara à tua morte.

Obrigade, flor.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

ao (finge) amar

Às vezes brinco de amar.
Procuro a vítima mais próxima.
Digo-a que a adoro.
Pressiono-a contra meu peito.
Finjo ser amigo.
Digo o que é preciso.
Sou ausente.
Mas sou supercarente.
Eu as amo: as pessoas.
Mas já não amo mais.
Eu as odeio.
Eu as provoco.
Ignoro.
Crio asco.
Admiro seus esforços.
Mas no fim
A história acaba.