terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pedro resiste

Pedro deseja ver além da vida.
Ele a assiste como tela de cinema.
Enxerga as cores que não estão por lá.
Mergulha no breu desconhecido.

Pedro acredita estar além.
Ainda põe fé nessa humanidade.
Não desiste.

Pedro se inunda
no silêncio.
Da voz.
Da rua.
Da solidão.

Pedro é irredutível.
Bate o pé.
Crê no quê diz.
No quê quer.

Pedro queria conhecer o mar.
Dançar nas chuvas de verão.
Conhecer a vida.

Pedro tem medo de gente.
Se esconde dentro de si.
Estar só o inspira.

Pedro anda descalço.
E sente-se livre.

Pedro ainda vê
o brilho nos olhos.
Avista a esperança.
Almeja sorrir.

Pedro vive.
Vive só.
Vive de brisa.
E vive vivendo.

Pedro admira a lua.
Sem lua.
Sem vida.
Sem flor.
Sem amor.

Pedro despreza
a dor.
o odor
das flores.

Pedro
De olhos vermelhos
E pulso forte.

  

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

sobre ontem, aqui e ao futuro.

Eu lembro. Tarde de outubro, ao calor sufocante no ar, você veio ao meu encontro como quem surge calado. Mesmo sabendo que o encontraria de um jeito ou de outro, a dúvida era constante, e espantava-me a sensação. E eu, com meus instintos desajeitados, lhe saudava com carinho.

Ah, como meu peito enchia-se de temor, espantava-me sua serenidade, sua leveza, aquela como quem livre compartilha de sensações contagiantes.

Eu o encarava, curioso, procurando dar fim a dúvida enfadonha. E nossos passos, sempre tão apressados, espalhavam a multidão ao redor, os mesmos deram trégua ao coração enlouquecido.

Falávamos de cinema, citavam-se preferências e os gostos peculiares. A conexão era-me surpreendente. Aos ditos tão banais, grandioso fez-se momento memorável. Flashs da infância e temores trocados desenvolvem a nossa naturalidade mútua.

Tudo que esperava era a magia da aproximação. Um movimento ou outro, bruscos, você abraçou-me com toque terno aveludado. É medonho como sou piegas; é miserável como tremo. Ao saudoso menino moço dos cabelos esvoaçantes, menino dos olhos distraídos, embora, sinceros (Este à quem tenho todo meu cuidado); entreguei-lhe estranha devoção de estar vulnerável e aberto.

Ao que vem adiante: deixo à critério da natureza inegável dos nossos corpos. Eu lembro. Flor-de-Lótus hipnótica e desconcertante encanto crescente, minha paixão é grande o bastante ao meu ego. Talvez não sejamos nada, ou apenas tudo, quem sabe só um pouco.

Ah, meu caro, espero que a razão esteja comigo. Ou que ao menos eu seja incoerente o bastante pra fazer-me aventureiro. O acaso nem existe, mas a beleza da dúvida ilumina meus pensamentos.

Com terno, dedico à flor as cartas de ontem.

algo sobre minha mãe

Sinto saudade. Sem porém. E saudade é o que me acolhe quando o vazio vem à tona. Não que eu viva de passado, mas saudade é a sensação mais preciosa que me vem à cabeça neste momento. Claro, não deixa de ser um pouco egoísta de minha parte, e de uma fixação patológica que seria-me preocupante.
A verdade, é que saudade só me existe por haver passado; e sem passado ninguém estaria lá. De lá, guardo de ti tudo que alimenta a alma. E daí vem minha vontade de estagnar a vida. E fixá-la bem no ponto onde a expectativa e o imprevisível eram frequentes.
Sou saudosista, admito. Mas porquê moro no medo. O medo do presente. O futuro me apavora, e então me derreto dentre memorias. As memórias refletem o meu eu. Elas nunca negam o que são. Constituem toda ruga, todo suor e luta aqui presentes em mim. É o que sou, e o que serei.
Gosto de estar em casa, de organizar e encarar os quadros e discos empoeirados. Guardo cartas da adolescência como relicários dourados. Nelas, vejo a inocência dos nossos dias de sol. Vejo vidas de veias pulsantes, sorridentes e acolhedoras.
O corpo se esvai, porém, a alma, delicada e sublime, permanece a mesma. Permanece suave, limpa, perene e jovem. E então crescer torna-se mais que dilema. Crescer vai além de datas em documentos. E a idade tampouco traria sabedoria se não fosse o prazer da experiência. E como aprendemos em cada instante, que, por fim, nem cresça de fato. É difícil dizer, ontem mesmo me vi vibrante, ativa e com tanto amor. Ah, como tinha amor.
Mas agora, sento-me aqui. Solitária, fronte a vida e minhas dores. E o arrependimento não me vem a cabeça. Sempre fui de acertar. O ego não me permite muito erros. Apesar que, ser errante é necessário, ser humano, ser pensante. Dispenso julgamentos. Nada disso atormentaria mais que isso. Por vezes, sem fundamento algum.
Eu ainda tenho medo da rua. Não por mim. Tampouco aos outros (se houvera outros). Tenho medo do que ela me trás, pra onde me leva. Mas nunca se sabe. A pouco, não teria consciência de tal fato. O medo cresce, e temo que possa me encontrar por lá. E se encontrasse, mal saberia como agir. Mas confio em que os dias de sol acolham-me com seus sorrisos amarelos. É que vejo esperança nos olhos da menina de outrora.
Sinto-me viva, respiro. E muito bem, sim, obrigada. Embora as lágrimas caiam, ainda me agradar mirar as muitas paredes pesadas com a nossa história. Com os delírios dos nossos dias. Este lugar, nesta aura, trazem sangue, suor e lágrimas, trazem sorrisos defeituosos e sinceros, trazem amor absoluto e o meu calor, a pele e as manchas escuras da vida. Por fim, quase não me sobra medo. Já consigo levantar e isto é que importa. Levante! 

marte: minha casa

Desculpe, sou de marte.
moro longe.

daqui,
mal o vejo.
nem gostaria.

aqui, minhas flores
morrem. 

daí, do lado
minha vida
se vai.

daqui,
os vizinhos
são poucos.
 
PAZ

daí,
minha paz
desaparece
com ruídos.

daí, a dor
me corrói.
mas sou
de Marte.
  
e daqui
não tem essa.

domingo, 5 de janeiro de 2014

esta não é uma estória

Esta estória poderia se tratar de qualquer um. Mas não fala de ninguém em especial. Sei que por em parágrafos as minhas, suas e alheias experiências seria nada original de minha parte. Pena que não tenho este dom. ser original requer certo esforço para criação.
Na verdade, o meu desejo é apenas compreender o quê escrever me significa. O quê me transmite, o quê expira, inspira, transpira. Escrever apenas por fazê-lo é demasiado fácil. Mas o quê te ínsita a continuar? O quê faz de mim um bom escritor ou um mau escritor? Qual é o bloqueio que vem fazer-me vazio?
Muitas perguntas, resposta nenhuma a vista. E aí vem mais... o quê realmente leva alguém a se interessar em suas palavras? O quê de tão especial e particular guardam essas pequenas junções de símbolos? E eu vos respondo: as palavras realmente têm poder. Elas atravessam o quê o meu coração lança a ponta de meus dedos incessantes.
Muito questiono ao que de importante traria ao mundo, à vida de pessoas, aos meus muitos entes queridos e aos não tão queridos assim. Ao mesmo tempo em que sou suspeito de autodestruição, sou louco apaixonado pela alma inscrita em meu corpo. A inspiração é diária, constante, modesta, muitas vezes nefasta e enfadonha. Escrever espreme minha alma e a liberta do meu inconsciente egoísta.
Nem sempre soube se realmente sou bom no quê faço nos momentos de insônia. A propósito, ainda não faço ideia. Existe sempre uma força que me divide entre o público e o reservado. Tal qual que público nunca vem a existir.
Isto posto, lamento em dizer-lhes, prezado público imaginário, um escritor sem boas histórias apenas as escreve. O escritor de boas histórias as vive a cada dia, imerge dentro de suas palavras e as lapida feito joia. Parece muito narcisista de minha parte, mas não posso evitar. Entre todo o jogo agridoce de minhas palavras existe alguém que deseja apenas descobrir-se. Sem movimentos literários, sem motivo aparente. Esse menino escreve em busca de libertação, mas ainda acredita que possa ser grande. E ele não deseja nada mais.
E a estória, meu caro, esta fica pra mais tarde. Ela flutua no meu inconsciente. A estória já vem pronta, só a espera dos dedos certos a escrevê-la. O enredo, vive-se todos os dias, segundos, frações e fases lunares. O espaço sempre será o mesmo, na cabeça de quem a cultiva. O tempo... o tempo é agora, baby. E não há como negar.
 A vida gira, e continuo por aqui. Sou culpado por morar em minha mente. Sou condenado por gostar daqui. E acrescento, a vista é ótima. E quero compartilhar isto com todos vocês, público/leitor imaginário.
As horas passam e as explosões coloridas acontecem freneticamente. Eu as transmito com a alma.     As cores psicodélicas cegam minhas retinas fatigadas pela luz artificial do meu monitor. E o que me resta é seguir o fluxo. Caminhar junto com minhas palavras; elas insistem em caminhar sozinhas, mas não posso evitar. Querem sempre dizer algo. Querem ser imponentes, fortes, majestosas e vibrantes. Acima de tudo: querem ser escritas.

rapidinha de verão

Porque amar parte?
Se posso amar
Todo?

Porque deixar?
Passar?
Se a verdade
É agora?

É tudo imediato.
Instantâneo.
Veloz.

Tão rápido
Que mal poderia
Terminar
O verso...