Meu amor... Estava mais que exposta a nossa paixão. Mais que
explícito o nosso calor, nosso fulgor de um desejo à dois, três ou quatro.
Contudo, a barreira invisível, nosso muro de Berlim, a nossa muralha da dor, a
parede, a fronteira nos limita às nossas amarguradas vidas frustradas de
sonhos. Limita, parte, rasga e nos condena a querer demasiado o oposto. Daí, propagam-se as cores, as coisas, o cheiro doce
do suor, os toques poucos e tímidos da aproximação. É covardia nossa,
pouquíssima bravura, fumaça demais pra enxergar nos olhos da razão. O flerte: a
conversa fiada do corpo, confesso furor cheio de pudores. Fúria de um pesadelo
à dois. Os olhos, a alma, porta da inspiração. Distância. Silêncio. Missões impossíveis. Nossos
corpos anseiam a invasão tenra dos fluidos. Ilusionista golpista este amor,
este instinto da carne. O anseio de fagocitar o oposto posto em sacrifício ao
sangue, ao pó. Tenha a vontade, a coragem que guarda junto ao
peito! O que nos nega a liberdade é o mesmo que liberta:
nós mesmos. Liberta o que outrora, na gaiola, restara de nós já não deseja
voar. Esse frisson é-nos belos a todo instante momento sufocante.
Flores-desejos, floreios amantes no papel distante de si. Distante da razão, do
aconchego.O brilho, a destreza dos movimentos refletores de
emoções cálidas. A dor dos dias enclausurados no vazio-alma. E ócio, dispor de
ócio sempre; e canalizá-lo a sofrer, a viver nas sombras e alimentar-se do
escuro, embriagar-se das emoções funestas.
Meu amor, não tenha medo. Fuja. Quebre as paredes do tesão. Seja. Respire. Seja outra vez. Mais uma... e mais outra. Seja o sonho, o gozo, a carne, o tato, o trago, a ilusão. Seja este corpo. Seja os nossos corpos. Esteja junto. Veja o que tem em mãos. Entregue-se ao nós, ao que deveria ser de nós. Realize os seus, os meus, os nossos. Foda. Foda. Foda-me. Foda-nos.
Meu amor, não tenha medo. Fuja. Quebre as paredes do tesão. Seja. Respire. Seja outra vez. Mais uma... e mais outra. Seja o sonho, o gozo, a carne, o tato, o trago, a ilusão. Seja este corpo. Seja os nossos corpos. Esteja junto. Veja o que tem em mãos. Entregue-se ao nós, ao que deveria ser de nós. Realize os seus, os meus, os nossos. Foda. Foda. Foda-me. Foda-nos.