sábado, 14 de fevereiro de 2015

almas deste mar

Que sonhos empacam na areia da praia?
Que deus nos permite sonhar?
Que areia, que água, que mar
repousam meus sonhos?
Que lá são sonhos se não realidade?
Que realidade faz-me duvidar?

- Foi tudo um sonho, acredite.
Diz a voz lá do alto de sua razão.
Diz a voz que a pouco deixou de sonhar.

Hei de ter as respostas
Para inundar-me no sonho-mar.
Acordar do real.
Viver de sonho.

Beber da água salgada;
A água em que os defuntos
muitos vem e vão.
Putrefatos membros dissociados
Salgados
Inchados pelo esquecimento.

Que é a morte se não um grande sonho?
Que é isso se não obliteração?
Que é a vida se não real demasiado?

espelho

o espelho me pune
o espelho revela-me
a verdade.

expõe-me

o espelho mostra-me
a idade
as rugas
e as mentiras

o espelho é a lembrança
da juventude dos meus olhos
a certeza que guarda
minha mente
lá no âmago

o espelho não me oblitera
o passado: ele o afirma fortemente.
queriam ao som
de Cinema Transcendental.
sorriam enquanto
dúvida comia.
pereciam enquanto
a nuca surgia.

mas é que "ver é violar"
e tê-lo já não quero muito.
de tanta dor
já não restam cores.

e Caetano ao fundo
ainda insiste em clamar
os trilhos urbanos
nos dias de passo firme.
Eu sou extremamente seduzido
por essa superfície constantemente gramatical
Daí então as palavras me engolem
Mas o que são palavras se não superfície?